domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Albergue


• título original:Hostel
• gênero:Terror
• duração:01 hs 35 min
• ano de lançamento:2005
• site oficial:http://www.oalbergue.com.br/
• estúdio:Raw Nerve / Hostel LLC / International Production Company
• distribuidora:Sony Pictures Releasing / Lions Gate Films
• direção: Eli Roth
• roteiro:Eli Roth
• produção:Chris Briggs, Mike Fleiss e Eli Roth
• música:Nathan Barr
• fotografia:Milan Chadima
• direção de arte:David Baxa
• figurino:Franco-Giacomo Carbone
• edição:George Folsey Jr.
• efeitos especiais:Precinct 13 Entertainment / K.N.B. EFX Group Inc.
elenco:
• Jay Hernandez (Paxton)
• Derek Richardson (Josh)
• Eythor Gudjonsson (Oli)
• Barbara Nadeljakova (Natalya)
• Jana Kaderabkova (Svetlana)
• Jennifer Lim (Kana)
• Lubomir Bukovy (Alex)
• Jana Havlickova (Vala)
• Takashi Miike (Miike Takashi)
• Paula Wild (Monique)
• Vladimir Silhavecky (Yuri)
• Vanessa Jungova (Saskia)
• Katerina Vomelova (Dominique)
• Jan Vlasák (Empresário holandês)
• Rick Hoffman (Empresário americano)
Nota: zero (categoria/parâmetro: terror)

O Albergue é apenas um exemplo de como Hollywood consegue ser desprezível no uso dos recursos de sua máquina cinematográfica afim de conquistar bilheteria e seu almejado lucro. Para explicar como funciona essa manipulação, citarei Freud brevemente.
Resumidamente, Freud apontou duas instâncias da mente humana como responsáveis por todos os desejos, anseios, prazeres e frustrações da vida de um ser humano, e, consequentemente, pelas atitudes que ele tomará. São estas: a libido e a agressividade. A libido, ou energia sexual, instância de vida que, através da sublimação, constrói sonhos, tece arte, busca liberdade; a agressividade, instância de morte, pelo uso da qual se mata, se destrói, mas não que seja esta uma “instância do mau”, ela é necessária para a sobrevivência humana, sendo responsável, por exemplo, pela auto-defesa. Em harmonia, as duas instâncias formam um homem possivelmente mais estável.
O Albergue, assim como muitos outros filmes, canaliza essas duas instâncias essenciais do ser humano em seu estado mais latente, cru, que está especialmente cru na juventude, afim de chamar a atenção e conseguir público. Por isso a fórmula “adolescentes entre o sexo e o esquartejamento” faz tanto sucesso, mesmo que usada para filmes absolutamente vazios e recheados de clichês. Os mesmos filmes vão se repetindo, um atrás do outro, e vão fazendo sucesso um atrás do outro, principalmente, mas não apenas, entre adolescentes, que assistem a cada um deles como se fosse a primeira vez que viram isso.
E é interessante como Hollywood consegue obter exatamente o efeito desejado, como se seres humanos fossem na verdade marionetes tão vazias que pudessem ser manipuladas facilmente. O público tem tesão na hora que é para ter tesão, morre de medo na hora que é pra morrer de medo, suspira aliviado quando é pra suspirar aliviado. E, como previsto, termina-se a projeção extasiado e certo de que foi uma das melhores coisas que já se assistiu.

Em O Albergue, um grupo de rapazes norte-americanos viaja à Europa atrás de mulheres, como se a única coisa que houvesse na Europa fossem mulheres (sim, há o típico personagem “nerd” que também quer ver museus, mas ele não é muito levado a sério), e dirigem-se prioritariamente à Holanda, confirmando a imagem estereotipada de que a Holanda é um prostíbulo. Que ironia, norte-americanos vendo a Holanda como um prostíbulo.
Então um cara misterioso lhes recomenda a Eslováquia (afinal das contas, um país totalmente exótico para uma massa de público que não se dará ao trabalho de olhar num mapa para saber onde fica), onde há mulheres estonteantes. Um país exótico com mulheres estonteantes também é uma boa fórmula.
Lá eles encontram as suas gostosas-objetos e fazem muito sexo, realmente muito sexo, para que jovens pipocando de hormônio não desgrudem os olhos da tela. O sexo que, segundo Freud, é o ápice dos desejos e a até da vida do ser humano, o sexo que já foi tão bem explorado em tantos filmes, na literatura, o sexo que já foi poetizado, já foi satirizado, já foi desnudado, já foi erotizado, já foi rasgado e já foi até romantizado, aqui ele é, simplesmente e sem nenhum pudor, reduzido a uma coisa imoral, desmoralizado, exposto de modo vazio e superficial e manipulado impiedosamente como mecanismo de lucro.
Mas então eles são enganados pelas gostosas-objetos (que, afinal, não são objetos do sexo, mas do dinheiro, o que eu não sei se é melhor ou pior), que recebem uma grana para levar turistas desavisados para uma casa de tortura, onde reúnem-se pessoas que têm prazer em arrancar dedos e outras coisitas mais. A propósito, norte-americanos são os mais caros. Até na hora de perder os dedos, os norte-americanos se dão o demasiado valor que eles não têm.
Lá o filme nos delicia com cenas explícitas de tortura muito tímidas. Sim, tímidas. Quem viu O Anticristo, filmaço de Lars Von Trier, sabe o que eu to falando. São cenas que querem assustar, mas não querem chocar o público ao ponto deles terem seus tabus sacudidos e saírem falando mal do filme. São cenas bem trash, bem clichês, com muito sangue (foram usados 150 galões de sangue durante as filmagens), muita mutilação, tão inverossímeis e previsíveis que causam mais piedade que medo a um espectador que não é influenciado por fórmulas. As cenas não assustam porque elas só foram feitas para assustar. Através delas, o espectador jovem, principalmente, libera, ou é levado a achar que libera, seus desejos reprimidos de violência, sua agressividade latente, sua sede por sangue. Agressividade convertida em lucro.
Ah, o primeiro dos jovens é torturado por um cirurgião frustrado que sublima sua frustração através da mutilação de inocentes. Ele diz que o cirurgião é o único que consegue ver a vida, consegue ter contato com ela. Sim, esse tema daria um ótimo filme. Mas não dá. É mostrado tão superficialmente que serve como desculpa farrapada para ligar pontos desconexos. E parece até que tal sublimação não faz sentido algum.
Então um dos três mocinhos consegue habilmente escapar quando o torturador escorrega em seu dedo, que fora arrancado e estava no chão. Segue-se uma sequência de ação digna de um bom sorvete na testa quando, livre para ir embora, ele resolve voltar (já viu isso antes?) para resgatar uma donzela indefesa que estava sendo torturada.

Eles escapam, mas felizmente não se casam: ela não agüenta se ver num espelho sem um olho e pula na frente de um trem. Sim, meus caros, beleza é tudo.
Então eis que, coincidentemente, ele reencontra o tal cirurgião que ainda por cima, nós descobrimos ligando os pontos, come a carne das pessoas que mutila, trazendo assim às telas o tema do canibalismo de modo tão banal e artificial que Hannibal deve ter se revirado no túmulo. Atendendo à última e esperançosa latência do espectador por sangue, que está agora atrelada à sede por vingança, o personagem é atingido por um ímpeto de fúria e persegue o cirurgião até um banheiro público, fazendo-o sofrer como um cachorro até enfim matá-lo. A vítima se torna o carrasco, e, ao invés de medo, o espectador sente prazer. Ele vê de novo a tortura e a morte, mas dessa vez se regojiza. Agora tudo é permitido.
Bom, o mocinho já tinha atropelado as gostosas e o cara suspeito da Holanda (que apareceu do nada ao lado delas lá na Eslováquia), então agora não há mais nada que acontecer. Solitário, sem amigos, sem a moça que salvou e sem dedos, porém vivo, ele volta, quase heróico, quase épico, o único sobrevivente daquele país exótico e tão cruel, para sua terra natal, para os Estados Unidos, onde, quem sabe, poderá reconstruir sua vida do zero. O espectador termina a projeção realizado, com a libido e a agressividade satisfeitos, e nada de fato foi acrescentado em sua vida, apenas no bolso dos “cineastas”.
Esse filme é um crime, um crime diário cometido em vários âmbitos, não apenas no cinema, pela máquina institucional capitalista, que reduz o cérebro e os sentimentos humanos à ameba e explora a essência do ser humano em sua origem em prol dos interesses de mercado. Lembra a política do Pão e Circo da Roma antiga? Mas agora o Coliseu é uma televisão ou uma sala de cinema.
O mais impressionante é uma figura prestigiada como Quentin Tarantino ter colocado o nome dele num absurdo de filme como esse. “Quentin Tarantino apresenta”, está nas capas, dando credibilidade para os cinéfilos. Tarantino tem se mostrado um diretor tão peculiar, tem feito coisas de tanta qualidade, que às vezes a gente até esquece que ele teve a pachorra de dirigir algo como “Um Drink no Inferno”. O nome dele em O Albergue nos lembra dessa lástima.


Prêmios:
Recebeu uma indicação ao MTV Movie Awards de Melhor Performance Assustada (Derek Richardson)

2 comentários:

  1. Muito bom este filme de terror,gostei muito. Mais para este crítico chamado murilo, não gostou nenhum pouco, hehehe.

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  2. Fui ler o texto achando que contava o que se passava no filme, mas as criticas atrapalharam muito o entendimento do mesmo. Nem consegui ler tudo de tão chato que esse texto ficou.

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