sábado, 24 de abril de 2010

O segredo dos seus olhos


• título original:El Secreto de sus Ojos
• gênero:Drama
• duração:02 hs 07 min
• ano de lançamento:2009
• site oficial:http://www.elsecretodesusojos.com/
• estúdio:100 Bares / Canal+ España / Haddock Films / Tornasol Films / ICAA / INCAA / ICO / TVE / Telefe
• distribuidora:Sony Pictures Classics / Europa Filmes
• direção: Juan José Campanella
• roteiro:Eduardo Sacheri e Juan José Campanella, baseado em livro de Eduardo Sacheri
• produção:Gerardo Herrero, Juan José Campanella e Vanessa Ragone
• música:Federico Jusid e Emilio Kauderer
• fotografia:Félix Monti
• direção de arte:
• figurino:Cecilia Monti
• edição:Juan José Campanella
elenco:
• Ricardo Darín (Benjamin Esposito)
• Soledad Villamil (Irene Menéndez Hastings)
• Pablo Rago (Ricardo Morales)
• Javier Godino (Isidoro Gómez)
• Guillermo Francella (Pablo Sandoval)
• José Luis Gioia (Inspetor Báez)
• Carla Quevedo (Liliana Coloto)
• Rudy Romano (Ordóñez)
• Mario Alarcón (Juez Fortuna Lacalle)
• Mariano Argento (Romano)
• Juan José Ortíz (Agente Cardozo)
• Kiko Cerone (Molinari)
• Fernando Pardo (Sicora)
• Elvio Duvini (Juan Robles)
• Sergio López Santana (Jacinto Cáceres)
• Gabriela Daniell (Alejandra Sandoval)
Nota: 7,0 (parâmetro/categoria: drama)

O lançamento argentino “O segredo de seus olhos” quer falar de paixão, mas fala de obsessão. Nisso reside seu potencial de comoção, assim ele arranca lágrimas, arranca suspiros. Não que seja um mal filme, ou antes um filme dissimulado, demasiado seria acusá-lo de ocultar pretensões maléficas nas entrelinhas; poderíamos chamá-lo, simplesmente, exagerado; em última instância, quiçá, apelativo. Sem querer, uma fórmula para os risos e lágrimas, uma fórmula para o Oscar. Mas apenas sem querer.
Benjamin é aparentemente um homem preso ao passado. Mas Benjamin desconstrói o conceito de passado: “não era outra vida, era essa vida”. Ele é preso, pois, a um determinado objeto presente em seu passado, hoje longínquo. O objeto de sua paixão.
Paixão que permaneceu em estado latente, hibernando, inconsciente de si mesma, até que a experiência, o contato com uma paixão alheia, tão ou mais forte do que a sua – se é que cabe ao conceito de paixão unidades de medida – despertou-lhe o sentimento de si mesma. Ricardo Morales brada “é a minha vida”, ao que Benjamin rebate, negando com o vigor que a paixão que desperta lhe incute. Pois a paixão de Morales não tem o poder da fluidez, a paixão de Morales tem a peculiaridade de ter-se fixado numa instância eterna e imutável a partir do momento em que seu objeto se esvai. As paixões são meramente fluidas quando em harmonia com a fluidez de seu objeto, mas o objeto da paixão de Morales se esvaíra, deixando esta pairando qual um fantasma, um fantasma de pedra, que tomba com o impacto da pedra, disseminando-se com o poder de penetração do fantasma – Benjamin é penetrado, sua paixão desperta como em contato com brasa.
Morales, por sua vez, encontra outro objeto – anexo àquele – para sua paixão, o toma para si, o encarcera, e volta a viver: enfim sua paixão tornou-se novamente fluida. Benjamin tinha razão, não bastavam 25 anos, não bastava o tempo: sem a paixão o homem não sobrevive, e se o objeto da paixão de Morales perecera, só haveria um jeito deste continuar vivo.

Outras paixões, estas secundárias no enredo, são exploradas. Gómez só foi localizado devido à sua incapacidade de esconder sua paixão: não mencionasse tantas referências ao Racing Club em suas cartas à mãe, jamais se teria perdido. Sandoval, cuja perspicácia levou a esta pista, pousara a paixão sobre a bebida: seu objeto era o álcool, ele só era vivo enquanto ébrio.
Isso tudo o filme explora, e explora de modo sensível, abstendo-se da racionalidade a fim de construir personagens psicologicamente profundos e de personalidade incoerente – o que consiste, afinal de contas, na maior das coerências, esta que só poucos conseguem traduzir em alguma forma de arte.
Contudo, não obstante tantas sutilezas, resta-nos a pergunta fundamental, a pergunta que nos incomoda durante toda a projeção, esta pergunta que desconstruirá muito do que Campanella e os demais realizadores do filme dedicaram-se tanto a construir: a paixão tem, de fato, um objeto?

Considerando-se como preceito basilar que a paixão consista não na relação de dependência e por vezes fanatismo de um sujeito sobre um determinado objeto, mas sim numa força que, por ter como função impulsionar a vida, garantir aos homens que se levantem todos os dias da cama sabendo que o caos os espera e, mesmo assim, sentindo-se plenos por dentro ao fazê-lo, jamais terá um objeto claro e definido – pois a vida não tem nem terá um objeto (objetivo) claro e definido –, chegamos à fatal conclusão de que houve por parte do filme uma confusão conceitual. Os personagens estão sempre falando sobre vazio, mas não conseguiriam nunca, numa abordagem realista, preencher um vazio interno através de uma relação com um objeto externo. Se Benjamin precisa de Irene – e não apenas das respostas e da força passional que residem em si – para se preencher e ser feliz, isso não é paixão; é, antes, amor. E, quando levado às últimas consequências, conforme acontece no filme, culminando em última instância à dependência e ao fechamento do sujeito em relação a qualquer outro objeto externo que se lhe apresente, obsessão. O exemplo de Benjamin vale para todos os personagens mencionados. Não são, sob qualquer perspectiva possível de análise, passionais; são, antes, obcecados. E das mulheres nem isso se pode dizer, são personagens-objetos, não tem o poder mínimo de constituírem-se em sujeitos. São objetos do que o filme quer definir como paixão, mas que, percebemos, é obsessão.
Toda essa confusão conceitual é acarretada não por má-vontade dos realizadores ou por alguma pretensão de se seguir fórmulas que conquistem prêmios – embora tenha sido esse o efeito repercutido na cerimônia do Oscar de 2010 –, mas sim por uma mão extremamente pesada no que diz respeito ao apelo emocional do filme. O exagero sentimentalista levou à idealização, à idealização levou à perda de realismo, de verossimilhança, e finalmente, num paradoxo fatal, do apelo sentimental. Teríamos um filme em suma muito mais sensível e tocante se, sem nos perdermos em excessos ultra-românticos, dissecássemos o segredo de olhos nos quais brilhasse uma paixão verdadeiramente genuína, uma paixão que impulsionasse o brilho destes olhos independente do que eles estivessem fitando.

-Planos-sequência.
Vi-me obrigado a fazer um tópico somente e nada mais para mencionar os planos-sequência do filme, como o em que a câmera presa a um helicópetero sobrevoa o estádio do Racing Club, passando pelos jogadores até localizar o assassino; e o que se segue pouco depois, acompanhando a perseguição a este assinassino. Fantásticos. Ponto.

-Curiosidade:
"O segredo dos seus olhos" foi o maior sucesso nacional de bilheteria na Argentina em 35 anos: mais de 2,5 milhões de espectadores e arrecadação recorde de 8,5 milhões de dólares. O mesmo aconteceu na Espanha, com salas lotadas e elogios rasgados.



Prêmios:

OSCAR
Ganhou
Melhor Filme Estrangeiro

GOYA
Ganhou
Melhor Filme Estrangeiro em Espanhol
Melhor Revelação Feminina - Soledad Villamil

Indicações
Melhor Filme
Melhor Diretor - Juan José Campanella
Melhor Ator - Ricardo Darín
Melhor Fotografia
Melhor Direção de Arte
Melhor Trilha Sonora
Melhor Roteiro Adaptado

FESTIVAL DE HAVANA
Ganhou
Prêmio Especial do Júri
Melhor Filme - Voto Popular
Melhor Diretor - Juan José Campanella
Melhor Ator - Ricardo Darín
Melhor Trilha Sonora

Um comentário:

  1. opa, muita boa sua critica. Dá uma olhada no meu blog depois, também sou um amante do cinema.
    http://cinefiliacultura.blogspot.com/

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