sábado, 27 de fevereiro de 2010

Avatar


• título original:Avatar
• gênero:Ficção Científica
• duração:02 hs 46 min
• ano de lançamento:2009
• site oficial:http://www.avatarfilme.com.br/
• estúdio:20th Century Fox Film Corporation / Giant Studios / Lightstorm Entertainment
• distribuidora:20th Century Fox Film Corporation
• direção: James Cameron
• roteiro:James Cameron
• produção:Jon Landau e James Cameron
• música:James Horner
• fotografia:Mauro Fiore
• direção de arte:Nick Bassett, Robert Bavin, Simon Bright, Todd Cherniawsky, Jill Cormack, Stefan Dechant, Seth Engstrom, Sean Haworth, Kevin Ishioka, Andrew L. Jones, Andy McLaren, Andrew Menzies, Ben Procter e Kim Sinclair
• figurino:Mayes C. Rubeo e Deborah Lynn Scott
• edição:John Refoua e Stephen E. Rivkin
• efeitos especiais:Framestore CFC / Gentle Giant Studios / Halon Entertainment / Hybride Technologies / Hydraulx / Industrial Light & Magic / Pixel Liberation Front / Stan Winston Studio / Giant Studios / The Third Floor / Weta Digital
elenco:
• Sam Worthington (Jake Sully)
• Zoe Saldana (Neytiri)
• Michelle Rodriguez (Trudy Chacon)
• Sigourney Weaver (Dra. Grace Augustine)
• Giovanni Ribisi (Selfridge)
• CCH Pounder (Moha)
• Stephen Lang (Coronel Quaritch)
• Joel Moore (Norm Spellman)
• Laz Alonso (Tsu'Tey)
• Dileep Rao (Dr. Max Patel)
• Peter Mensah (Akwey)
• Matt Gerald (Lyle Wainfleet)
Nota: 2,5 (categoria/parâmetro: filme futurista)

Uma obra estritamente visual, o “revolucionário” Avatar, nada mais que uma releitura escapista e moralista do processo de colonização do Novo Mundo, é permeado de clichês, nos transmite constantemente a sensação de “já vimos isso em algum lugar”, e tem um enredo fraco, lembrando velhos clássicos infantis.
Avatar aposta num enredo simples a fim de focar toda a atenção do público no aspecto visual da obra. Sim, o filme conta com uma tecnologia apavorante e efeitos gráficos incomparáveis. Os quase dez anos e os mais de 400 milhões de dólares gastos em sua criação não foram à toa. E a projeção em 3D, a mais nova modinha mega-lucrativa de Hollywood, só intensifica a sensação de absorção que a imagem transmite. Somos absorvidos e em momentos estamos mesmo dentro daquela paisagem, seja o exotismo e exuberância de Pandora ou o futurismo das naves espaciais – que lembram vagamente naves como as de 2001 ou de Star Wars. Respiramos tudo aquilo.
O enredo é totalmente previsível. O próximo acontecimento é sempre esperado, sabemos todas as reações, as reviravoltas, os desfechos. Mas ninguém se importa.
Porque o cinema é cada vez menos arte e cada vez mais tecnologia, tecnologia, tecnologia. Sem bobajadas de intimismos, queremos ação, ação, lugares-comuns, mais ação. E longas intermináveis, porque desde sempre grandiosidade foi associada com duração. “...E o vento levou” não teria feito a revolução que fez se não fosse gigante, “Ben-Hur” não teria salvado a MGM se não o fosse; “Avatar” não poderia ser diferente. Para os que curtem entretenimento previsível o efeito funciona, e cada minuto a mais de bichos azuis é um minuto a mais se exaltando o filme para os amigos que (ainda) não o viram. Para os que amam a arte que é o cinema e têm um mínimo de senso crítico, a sessão simplesmente enfadonha parece interminável.
Mas não apenas de longa duração se faz uma obra faraônica. Tudo tem que ser grande. As florestas de Pandora são tão saturadas que consomem em nossos olhos, as tomadas aéreas nos submergem em um mundo nos quais nos sentimos ínfimos; o espaço sideral onde estão as naves trazem a mesma sensação. A idéia é essa, nos sentirmos pequenos diante de tanta grandiloquência. Julgarmos tudo aquilo maior que nossa vidinha fútil.
E aí também entra o caráter épico da história. A luta fantástica entre o bem e o mal, o explorado e o explorador, o traído e o traidor. O bom selvagem simpático e puro e o militar calculista. Os exércitos surreais e intermináveis, o lado suprimido, com desvantagem bélica, mas que supera o rival com alguma força metafísica, o amor guiando os passos dos heróis, salvando povos, nações, unindo povos, vencendo injustiças. O escapismo.
Mas esse escapismo romântico para um passado idealizado já está muito batido, é coisa do século XIX. Então, Avatar realiza um jogo muito interessante, e muito promissor, ao contextualizar o passado no futuro, juntando, num mesmo pacote, o poder de bilheteria de um bom escapismo romântico com o poder de bilheteria de uma exacerbada tecnologia futurista.
Não parece toda essa produção exagerada e exorbitante nada mais que um profundo ressentimento patriota americano contra seus colonizadores? Não é a concretização na tela do cinema daquela sensação utópica escapista romântica de “e se tudo tivesse sido diferente?” Ou a semelhança dos Na’vi com os índios nativos americanos é mera coincidência? Eles são índios demais para serem extraterrestes. Pintam o corpo demais, usam arco e flecha demais, veneram a natureza demais, são rudimentares e toscos demais para que não tenham nascido em outro planeta senão a Terra, em outro continente senão a América. Até suas tradições, seus costumes baseados em determinados valores, tudo lembra. E os terráqueos são obcecados demais numa determinada pedra preciosa – no caso, o tal do unobtainium – abundante na terra dos índios, com alto valor no mercado, para não serem outros senão os europeus enfrentando o mercantilismo – e o metalismo – florescente na Idade Moderna. A trupe científica simpática aos Na’vi, liderada pela dra. Grace, lembra nossos grupos antropológicos históricos, ou vagamente até mesmo os jesuítas que querem educar os nativos e aprender com eles, e que se opõem à dominação bélica da metrópole.
Mas algumas coisas são diferentes. Se a História é amoral, o cinema comercial é o que há de mais moralista. Os nativos da Idade Moderna aceitaram inicialmente relações de troca (temos no Brasil, por exemplo, os famosos escambos); os Na’vi não, porque eles “não precisavam de nada daquilo”. Muito mais valiosos, não? Os indícios de que a catástrofe não se concretizaria começaram aí. E de fato os Na’vi não se deixaram colonizar. Não foram aniquilados pelos “homens do céu” (assim como os índios americanos foram aniquilados pelos “homens do mar”). Eles resistiram. Proporcionando-nos uma maravilhosa sensação de esperança, de bem-estar; por que não desejar que Pandora de fato exista, por que não desejar que aquele mundo seja o real? Que nunca tenhamos sido colonizados – ou que não sejamos explorados, que não nos sujeitamos a forças dominantes, a sistemas? E de repente deixamos nossa vidinha fútil, fazemos parte de toda aquela grandiloquência. Conforto; conformismo. Escapismo. Bilheteria.
E na vida real tudo continua o mesmo.
- Vamos assistir Avatar de novo?

Trata-se de uma obra romântica, porque as obras românticas sempre venderam mais. E sempre ganharam Oscars.
A expectativa é grande. Nove indicações? Vamos ver quantos prêmios a Academia de Hollywood dará para esse seu mais recente e legítimo filho.




Crítica escrita em 07/02/2010 (exatamente um mês antes do Oscar)




Prêmios:

Globo de Ouro (2010)

Melhor Filme (drama) - Vencedor
Melhor Realizador (James Cameron) - Vencedor
Melhor Canção (original) (I see you) - Nomeado
Melhor Trilha Sonora - Nomeado


Avatar recebeu nove indicações pro Oscar. As devidas atualizações serão feitas após a entrega dos prêmios, que ocorrerá dia 7 de março.
As indicações são: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melho Edição de Som, Melhor Efeito Especial, Melhor Mixagem de Som e Melhor Edição


Atualização:
Avatar ganhou os prêmios de fotografia, direção de arte e efeito especial

3 comentários:

  1. Cara como eu já disse. Avatar daria um livro incrivel, mas é um filme ravoazel.
    Eu gostei. me interesso no genero. mas como você disse é tanta coisa pra ver, que a gente não repara em mais nada.
    E para de falar mal de romantismo. eu adoro romantismo. É tão bonito. é tão bonito e perfeitinho demais pra acontecer, sei que não acontece e não acredito que aconteça, por isso fico feliz que alguns bobos por ae escrevam histórias como essas para que eu veja e me sinta um pouco melhor.
    E eu faço votos para que Avatar não ganhe Oscars. só se for o Oscar de maior utilização de brilhos gays e azul na fotografia --'

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  2. O problema desses filmes romnticos é q você se sente melhor por acreditar que as coisas estão bem quando na verdade não estão
    Minha professora de antropologia falou umas coisas interessantes desse filme. Depois que eu fizer minha primeira etnografia voltarei a escrever sobre ele

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  3. Achei Avatar uma DROGA!!! Um alucinógeno!!Concordo com toda a discussão da temática filosófica descrita por vc, porém tenho que avaliar uma outra forma de cinema. O cinema que explora dois sentidos, tão comercialmente explorados: visão e audição. Ativa soberbamente a captação dos olhos e ouvidos, de forma a levar-nos a uma viagem. Como se as sensações captadas por eles pudessem ser tão mais intensas e reais a ponto se substituir as outras: sem sabor, sem cheiro, sem a "pegada"!!! Mas parece já ser suficiente!!! Não poderia ser diferente neste filme tão comercialmente explorado: o que se vê e o que se ouve. Assim sempre agiu o markenting. Porém não deixa de ser uma sessão em que podemos nos sentir drogados sem culpa, como fumar um baseado na boa, legalmente! Tudo que vem por trás disso passa a ser captado subliminarmente, eu sei, porém, nao deixa de ser um bom filme para os fins que se propõe.

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