domingo, 21 de fevereiro de 2010

À Meia Luz



produtora: MGM
diretor: George Cukor
roteiro: John Van Druten, Walter Reisch, John L. Balderston, baseado na peça de teatro de Patrick Hamilton
produtor: Arthur Hornblow Jr.

Elenco
Charles Boyer Gregory Anton
Ingrid Bergman Paula Alquist Anton
Joseph Cotten Brian Cameron
Dame May Whitty Srta. Thwaites
Angela Lansbury Nancy Oliver
Barbara Everest Elizabeth Tompkins
Terry Moore Paula, aos 14 anos
Tom Stevenson Williams
Edmund Breon Gen. Huddleston
Jakob Gimpel Pianista
Halliwell Hobbes Sr. Muffin
Heather Thatcher Lady Dalroy
Emil Rameau Maestro Mario Guardi
Lawrence Grossmith Lord Dalroy
Harry Adams Policial
Arthur Blake Mordomo
Helen Flint Franchette
Joy Harington Srta. Laura Pritchard
Jack Kirk Taxista
Morgan Wallace Fred Garrett
Pat Malone Policial
Joseph North Policial


Nota: 6,0 (parâmetro/categoria: suspense)

À meia luz (versão de 1944) é uma obra com um excelente roteiro que peca apenas, quem diria, por ser hollywoodiana. O suspense da trama é de muita qualidade, mas, infelizmente, o modo superficial como ela (a trama, não o suspense) é passada ao público não convence. Por mais frágil que Paula, a personagem da (cá entre nós, LINDÍSSIMA) Ingrid Bergman (Casablanca) seja, devido aos traumáticos acontecimentos do passado, fragilidade é diferente de ingenuidade, e é necessária ingenuidade demais para deixar-se convencer por alguém da própria insanidade. Os modos rudes de Gregory (Charles Boyer), como se lhe cobrassem sanidade, não é coerente com a afeição extremada que ele demonstra no início do filme, o que traz uma suspeita tão óbvia que se torna absurdo, primeiro, que Paula tenha se deixado enganar (se ela estivesse realmente ficando louca ele teria todos os cuidados do mundo com ela, ao invés de tratá-la mal por causa disso), e, segundo, que o espectador não preveja com absoluta tranqüilidade o final do suspense. E suspense com final óbvio é fim de carreira.
Também é necessária absurda ingenuidade para ser uma completa marionete, como se mostra Paula no decorrer do filme (o único momento em que ela toma uma atitude própria é quando decide largar as aulas de música em função de seu amor). Claramente é uma personagem fruto de uma mentalidade machista, em que as mulheres estão sempre submissas ao destino, frágeis, ingênuas, são, enfim, objeto da maldade de uns, objeto que será salvado por outros, mas, acima de tudo, objetos, incapazes de se defender e de tomar atitudes, ou mesmo de usar o raciocínio para desconfiar de coisas óbvias que porventura estejam acontecendo ao redor. Ela acredita em tudo que Gregory lhe diz, tem medo dele como se sua suposta insanidade fosse um crime ou uma imoralidade, e chega a (quem sabe) se servir de recompensa ao seu bom salvador, Brian Cameron, personagem de Joseph Lansburry, em um final de filme que insinua um futuro relacionamento entre os dois.

Os devidos créditos à fotografia P&B, cuja iluminação precisa transmite exatamente o sentimento dos personagens, notoriamente a agonia de algumas cenas, e à música, que, embora esteja esta dentro das convenções de um suspense, também consegue eficientemente se prestar ao que veio. Destaque para as atuações de Charles Boyer e de Ângela Lansbury (também uma linda atriz), com suas expressões enigmáticas e indefectíveis. A atuação de Ingrid Bergman é mediana, lembrando por vezes uma boneca de porcelana (absurdo ter ganhado o Oscar).
Os momentos iniciais do filme (até um bom decorrer dele) me trouxeram boas expectativas, e estava mesmo animado a fazer uma crítica bem positiva. Contudo, por mais que eu ficasse buscando nas entrelinhas, o filme não trouxe margem alguma para que suspeitemos que Paula está realmente louca, ou que Gregory não tenha nada a ver com isso; podemos até suspeitar, a certa altura, da empregada Nancy (Ângela Lasburry, também uma linda atriz), que, abrindo um parênteses, terminou o filme enigmática (ela desprezava Paula de fato?), mas de qualquer jeito sabemos que, mesmo que tenha uma parcela de culpa, ela não está agindo sozinha; de qualquer modo Gregory está envolvido. Não há margens para que suspeitemos da cozinheira Elizabeth (Barbara Everest), embora até dê um medinho numa cena em que ela entra no quarto de Paula para ajudá-la no vestido, nem da sem-noção senhora Thwaites (Dame May Whitty), que nos prestigia com um “final engraçadinho chave-de-ouro”). O suspense não deixa outras suspeitas de desfecho senão o que ele realmente tem. A culpabilidade de Gregory fica clara desde a cena em que ele arranca a carta (cuja autoria também fica óbvia) das mãos de Paula, e essa suspeita é, daí em diante, apenas confirmada, sem reviravoltas. Uma crítica dessas vinda de mim é significativa, porque costumo abnegar “reviravoltas na trama” (um exemplo é minha aprovação ao filme “Beleza roubada”, de Bertolucci, quando a personagem descobre quem é seu pai sem que o filme dê a isso qualquer clímax, fato que foi muito desaprovado pelos críticos); contudo eu não gosto de generalizar e percebo quando elas são necessárias. E nesse filme elas eram. Pois senão o próprio propósito do suspense se esvai. Qual o objetivo do filme? Que sensação ele quis transmitir ao público?
Sensação alguma; ele quis vender; aí está seu pecado, ter nascido um elaborado, sutil e refinado suspense psicológico, e morrido hollywoodiano, e nada mais.


Prêmios
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Atriz (Ingrid Bergman)

Oscar de Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons, William Ferrari, Edwin B. Willis, Paul Huldschinsky)


Prêmios Globo de Ouro, EUA

Prêmio de Melhor Atriz em um Drama (Ingrid Bergman)

Indicações
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Fotografia

Oscar de Melhor Filme

Oscar de Melhor Ator (Charles Boyer)

Oscar de Melhor Roteiro Original

Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Angela Lansbury)

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