sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ventos da Liberdade


• título original:The Wind that Shakes the Barley
• gênero:Drama
• duração:02 hs 07 min
• ano de lançamento:2006
• site oficial:http://www.thewindthatshakesthebarley.co.uk/
• estúdio:BIM Distribuzione / Film Coop / Sixteen Films Ltd. / Bórd Scannán na hÉireann / Element Films / TV3 Television Network Ireland / Tornasol Films S.A. / UK Film Council / Matador Pictures / Filmstiftung Nordrhein-Westfalen / EMC Produkt
• distribuidora:IFC First Take / California Filmes
• direção: Ken Loach
• roteiro:Paul Laverty
• produção:Rebecca O'Brien
• música:George Fenton
• fotografia:Barry Ackroyd
• direção de arte:Michael Higgins e Mark Lowry
• figurino:Eimer Ni Mhaoldomhnaigh
• edição:Jonathan Morris
• efeitos especiais:Team FX Ltd. / Cine Image Film Opticals Ltd.
elenco:
• Cillian Murphy (Damien)
• Padraic Delaney (Teddy)
• Liam Cunningham (Dan)
• Gerard Kearney (Donnacha)
• William Ruane (Gogan)
• Roger Allam (Sir John Hamilton)
• Laurence Barry (Micheail)
• Frank Bourke (Leo)
• John Crean (Chris)
• Máirtín de Cógáin (Sean)
• Orla Fitzgerald (Sinead)
• Myles Horgan (Rory)
• Damien Kearney (Finbar)
• Martin Lucey (Congo)
• Shane Nott (Ned)
• Siobhan Mc Sweeney (Julia)
• Sean McGinley (Padre)
• Antony Byrne (Interrogador)
Nota: 8,2 (parâmetro/categoria: filme político)

Um filme de guerra muito belo, que ganha profundidade ao abandonar conceitos clássicos de lado de mal e lado do bem e explorar as divergências internas dentro do lado explorado – a Irlanda dominada pela Inglaterra em 1920.
No início parecia ser um filme de guerra como qualquer outro. Damien, que não mexia com política e ia levar uma vida conformada como médico, vê um garoto ser morto por não falar seu nome em inglês para os oficiais em ingleses; mesmo assim ia embora para levar sua vida, contudo, deparando-se com mais barbaridades na estação de trem, decide ceder aos apelos do irmão, Tedd, e lutar ao seu lado numa guerrilha contra a Inglaterra. História senso-comum e tantas vezes já repetida – em vários contextos – do mocinho inicialmente alienado que passa por sua conscietnização – redenção – e se torna um grande herói, futuramente tornando-se até mais engajado e determinado do que os que lhe levaram para luta? Sim, Ventos de Liberdade é isso. Mas não é só isso.
Não é só isso porque ao construir essa trilha típica do herói convertido ele desnuda aspectos interessantes e nada maniqueístas desse período conturbado da história irlandesa.

Tudo bem, inicialmente temos, além da expectativa de enredo banal, cenas de violência banais, moldadas na estética do entretenimento, incapazes de causar comoção ou reflexão. Mas isso acaba se alterando. O primeiro momento interessante é quando Damien se vê obrigado a executar o próprio amigo por traição – que traiu não por ser mau, mas por fraqueza. É uma passagem muita bela mostrada de modo humano.
As divergências internas já começam, mostrando aos espectadores que a História não é preto no branco. No primeiro tribunal independente da Irlanda, um homem é acusado de cobrar juros muito altos de uma senhora. Mas, embora a justiça dê causa para a senhora, Tedd vai em socorro do homem, já que ele é fornecedor de armas e, portanto, tem um papel indispensável na organização do grupo. Damien defende a senhora, mostrando ser um personagem de caráter – um herói.
Mas o filme se torna realmente interessante quando a Inglaterra propõe um pretenso tratado de paz que concede vários privilégios para os irlandeses, contudo os mantém sob o domínio político da Coroa. Há uma cena fantástica no ponto de vista histórico-político que mostra os irlandeses discutindo a ratificação ou não do tratado; a discussão deles é trabalhando de modo a inserir o espectador exatamente dentro do contexto e da problemática histórica que é retratada. Então, de repente, os grupos antes divergente se tornam definitivamente inimigos, os irmãos se tornam inimigos, irlandeses matam irlandeses. Os soldados ingleses são retirados do território irlandês, mas, ironicamente, irlandeses – que antes lutavam contra esses soldados – assumem seu lugar: são os nacionalistas. A Igreja Católica, sempre hipócrita e com interesses, defende-os, defende a ratificação. O padre prega em favor, na verdade, da manutenção da soberania da sua instituição (o que torna-se ainda mais hipócrita se considerarmos que um dos embates ideológicos entre a Inglaterra e Irlanda geradores do espírito separatista desta é resultante do fato de uma ser protestante enquanto a outra é católica). Os republicanos – mocinhos do filme, os que ainda querem a liberdade plena – mantém-se firmes, e chegam a apresentar projetos socialistas para uma futura Irlanda.
E todo esse redemoinho culmina enfim – se você não viu o filme não leia esse parágrafo – em Tedd tentando subornar o próprio irmão para trair seu grupo – quando, lembram-se, o mesmo Tedd mandara Damien executar seu amigo por traição. E, ironicamente, a mando de Tedd, Damien é então executado por não-traição. Um final de uma sensibilidade humana e profundidade reflexiva tão grande que inesperado quando, de começo, imaginamos estar iniciando um filme comum. A última cena é simplesmente tocante.
Um tratado da crueldade da natureza humana, ou da crueldade que ela assume quando entra em contato com certos arquétipos como o poder. Fazendo uso do clichê do herói convertido, o filme mostra que o heroísmo não tem força perante a complexidade social que torna a liberdade interesse político. Ventos da Liberdade nos mostra, ironicamente, que os ventos que porventura trouxerem a liberdade ainda sopram muito longe daqui.



Prêmios:

Festival de Cannes 2006 (França)
Conquistou a Palma de Ouro.

European Film Awards 2006
Venceu na categoria de melhor fotografia.
Indicado nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Cillian Murphy) e melhor roteiro.

Prêmio Goya 2007 (Espanha)
Indicado na categoria de melhor filme europeu.
Satellite Awards 2006 (EUA)
Indicado na categoria de melhor roteiro original.

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