terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ben-Hur


• título original:Ben-Hur
• gênero:Épico
• duração:03 hs 39 min
• ano de lançamento:1959
• site oficial:
• estúdio:MGM
• distribuidora:MGM
• direção: William Wyler
• roteiro:Karl Tunberg, baseado em livro de Lew Wallace
• produção:Sam Zimbalist
• música:Miklós Rózca
• fotografia:Robert Surtees
• direção de arte:Edward C. Carfagno e William A. Horning
• figurino:Elizabeth Haffenden
• edição:John D. Dunning e Ralph E. Winters
elenco:
• Charlton Heston (Judah Ben-Hur)
• Jack Hawkins (Quintus Arrius)
• Haya Harareet (Esther)
• Stephen Boyd (Messala)
• Hugh Griffith (Xeique Ilderim)
• Martha Scott (Miriam)
• Cathy O'Donnell (Tirzah)
• Sam Jaffe (Simonides)
• Finlay Currie (Balthasar)
• Frank Thring (Poncius Pilatus)
• Terence Longdon (Drusus)
• George Relph (Tiberius)
• André Morell (Sextus)
• John Glenn
Nota: 2,0 (categoria/parâmetro: épico)

A obra que salvou a MGM da falência, Ben-Hur é épico e romântico por excelência; daí seu grande sucesso comercial e o arrebatamento do número recorde de 11 Oscar, depois só igualado por outras obras épicas e românticas: Titanic e O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei.

Um punhado de fórmulas – a maior parte delas inspiradas nos preceitos da escola literária romântica – muito bem estruturadas entrelaçadas e lapidadas de modo a cativar até os críticos mais avisados: um herói virtuoso e sempre bem-intencionado (Ben-Hur tem a bênção do próprio Jesus, já que este lhe dá água), pertencente a uma classe abastada que gerará assimilação, empatia e, enfim simpatia por parte do público médio burguês, o escapismo da realidade para um passado romântico e idealizado, um amor artificialmente verdadeiro e com escassa complexidade emocional, dimensões sociais e psicológicas absolutamente superficiais, com personagens caricatos, rasos, e pontualmente definidos sob a estética clássica do bem e do mal (reparem que os cavalos de Ben-Hur são branquíssimos e os de Messala são negros, enquanto os dos personagens que não têm nada a ver com a história têm cores intermediárias), uma religiosidade unilateral que pontuará as normas de conduta e moral expressadas e defendidas pelos mocinhos de modo panfletário e doutrinante. Um enredo cronológico e linear pautado em introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho, cativando atenção. E, finalmente, a saga deste tal herói épico-romântico em busca de liberdade, justiça, e vingança (em muitos casos contra a traição de um suposto amigo), aos moldes de uma escola literária iniciada por figuras como Alexandre Dumas. São claras as semelhanças entre O Conde de Monte Cristo e Ben-Hur: ambos iniciam a história com status, ambos decaem à escravidão e aprisionamento, uma melancólica e injusta submissão, e ambos erguem-se novamente ao status, através de um processo de amadurecimento, assimilação de valores – vagos – e busca pela vingança. O mesmo ocorrerá com o Gladiador de Ridley Scott. O mesmo ocorrerá com muitas sagas de muitos heróis românticos em muitos épicos, desde Jesus Cristo, quem sabe o primeiro herói romântico, até Che Guevara, quem sabe o último.

Junte tudo isso a uma brilhante e ofuscante coloração em Techinocolor e gastos megalomaníacos em efeitos especiais e perfeição técnica (Ben-Hur foi o longa mais caro já feito até então e teve um orçamento de 15 milhões de dólares.), e se terá um filme muito bem-sucedido (Ben-Hur teve uma bilheteria de 70 milhões de dólares só nos Estados Unidos). É claro que não basta empilhar um punhado de clichês e esperar o dinheiro entrar; o mérito de obras-chavões que se destacam é a minuciosa articulação dos clichês – de preferência de um grande número deles –, de modo que nenhum se ofusque em prol de outro, em prol de um equilíbrio entre os lugares-comuns, e a inserção neles em um caráter doutrinador que consiga arrebanhar o público sob uma ideologia/crença comum e cativante – no caso, o cristianismo (exemplificando o que foi dito, temos em Ben-Hur este fator elevado ao extremo, com a presença simbólica e messiânica do personagem de Jesus Cristo pontuando toda a obra, sem que nunca vejamos seu rosto, a projeção de seu nascimento com direito a um holofote estrelar e até a representação de um característico milagre bíblico no final do filme). Ideologia que, claro, só deve ser exposta até aquela margem que não abre espaço para que surjam as incoerências e para que as divergências aflorem. Assim, uma contextualização histórica completamente artificial, caricata, e pautada no senso-comum é fundamental.
Assim, deparamo-nos com o melhor exemplar do que o cinema industrial pode nos oferecer. Três horas e meia em que simplesmente não conseguimos desgrudar os olhos da tela, ansiosos por entretenimento: surpreendemo-nos com cada desfecho que já tínhamos previsto que iria acontecer e nos emocionamos com cada demonstração de heroísmo que sabemos não corresponder ao que, no íntimo, acreditamos ser o ser humano. E, até que a projeção finalmente cesse, para que a esqueçamos e voltemos a indiferentemente discutir questões cotidianas, sem que nada houvesse mudado ou que um lapso de reflexão houvesse sido incutido em nossa cabeça, acreditamos de fato que o ser humano pode amar seu inimigo, que a justiça será feita, e que a lepra tem cura.

- Atuação
Burt Lancaster e Paul Newman recusaram o papel de Ben-Hur, mas Charlton Heston deu conta do recado, passando exatamente aquilo a que se presta. Agora, quem realmente enche o saco é Haya Harareet no papel de Esther, a ex-escrava de Ben-Hur que é apaixonada por ele e que passa o filme inteiro com exatamente a mesma cara plácida, o mesmo tom de voz arrastado e sem qualquer vigor que indique uma pontinha sequer de sentimento oculto sob a mera e crua técnica de atuação, e o mesmo modo enfadonho de ficar repetindo tudo aquilo que já sabemos. É impossível dar qualquer credibilidade à personagem ou ao que ela fala, e a culpa é da atriz, que não conseguiu encarnar de modo verossímil o amor ao Ben-Hur e à nascente fé cristã, passando-nos não mais que uma nauseante indiferença e uma indefectível e fria atuação técnica.

- Um lapso de lucidez
O único lapso de lucidez do filme refere-se ao momento em que Ben-Hur afirma que o inimigo não é Messala, mas sim Roma, que fez com o amigo o mesmo que fez à sua família. Se essa lógica fosse de fato seguida, poderíamos até quem sabe chegar num filme de dimensões sociais críticas e personagens menos caricaturados e mais amplos; quem sabe nos deparássemos com um épico mediano. Em contrapartida, a MGM não teria saído do buraco. O que vemos é o caráter redentor da fé cristã nascente como alternativa única e suprema à opressão da Roma pagã e pecadora. Ou seja, por um momento mínimo se ameaçou uma abordagem mais abrangente, contudo, sem abandonar a superficialidade e a perspectiva unilateral, logo caímos de novo na luta clássica do bem contra o mal, sendo que a única diferença ocorrida nesse processo é deixarmos a esfera individual Ben-Hur x Messala e adentrarmos a esfera coletiva Cristianismo x Roma. E o leão agradece até hoje, rugindo, graças a isso, em tantas aberturas de tantos filmes.



Principais prêmios e indicações:

Oscar 1960 (EUA) - 11 vitórias de 12 indicações

Melhor Filme
Melhor Diretor (William Wyler)
Melhor Direção de Arte a Cores
Melhor Ator Principal (Charlton Heston)
Melhor Ator Coadjuvante (Hugh Griffith)
Melhor Fotografia
Melhor Figurino a Cores
Melhores Efeitos Especiais
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora
Melhor Som
Indicação: Melhor Roteiro Adaptado

Globo de Ouro 1960 (EUA) - 4 vitórias de 5 indicações

Melhor Filme - Drama
Melhor Diretor (William Wyler)
Melhor Ator Coadjuvante (Stephen Boyd)
Recebeu um prêmio especial, dado a Andrew Marton por sua direção na cena da corrida de bigas.
Indicação: Melhor Ator - Drama (Charlton Heston).

BAFTA 1960 (Reino Unido)

Venceu na categoria de melhor filme.

David 1961 (Itália)

Venceu na categoria de melhor filme estrangeiro.

Grammy Awards 1960 (EUA)

Indicado na categoria de melhor álbum de trilha sonora para cinema ou televisão.

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