terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Invictus


• título original:Invictus
• gênero:Drama
• duração:02 hs 14 min
• ano de lançamento:2009
• site oficial:http://wwws.pt.warnerbros.com/invictus/
• estúdio:Warner Bros. Pictures / Spyglass Entertainment / Revelations Entertainment / Mace Neufeld Productions / Malpaso Productions
• distribuidora:Warner Bros.
• direção: Clint Eastwood
• roteiro:Anthony Peckham, baseado em livro de John Carlin
• produção:Clint Eastwood, Robert Lorenz, Lori McCreary e Mace Neufeld
• música:Kyle Eastwood e Michael Stevens
• fotografia:Tom Stern
• direção de arte:Tom Hannam e Jonathan Hely-Hutchinson
• figurino:Deborah Hopper
• edição:Joel Cox e Gary Roach
• efeitos especiais:CIS Hollywood / CIS Vancouver / Hirota Paint Industries

elenco:
• Morgan Freeman (Nelson Mandela)
• Matt Damon (Francois Pienaar)
• Tony Kgoroge (Jason Tshabalala)
• Patrick Mofokeng (Linda Moonsamy)
• Matt Stern (Hendrick Booyens)
• Julian Lewis Jones (Etienne Feyder)
• Adjoa Andoh (Brenda Mazibuko)
• Marguerite Wheatley (Nerine)
• Leleti Khumalo (Mary)
• Patrick Lyster (Sr. Pienaar)
• Penny Downie (Sra. Pienaar)
• Sibongile Nojila (Eunice)
• Bonnie Henna (Zindzi)
• Shakes Myeko (Ministro dos Esportes)
• Robin Smith (Johan De Villiers)
• Dan Robbertse (Boer)
• Zak Feaunati (Jonah Lomu)
• Langley Kirkwood (George)
• Grant Roberts (Ruben Kruger)
Nota: 5,5 (categoria/parâmetro: filme político)

No auge de seu amadurecimento, Clint Eastwood realiza um de seus piores filmes – embora não seja um filme ruim.
Invictus mantém pontos interessantes ao retratar a África do Sul pós-apartheid e sob o regime de Nelson Mandela, mostrando como este utilizou o rugby como mecanismo de integração racial. Além disso, “Invictus” é o nome de um poema, e a simbologia que esse poema representa no filme lhe dá uma carga intimista que escapa um pouco – não muito, mas um pouco – ao senso comum dos filmes políticos, geralmente mais frios e calculados.

Além do mais, o filme traz a constante de Clint Eastwood que é o tema da intolerância, tema já amadurecido em sua obra, o qual ele domina e consegue abordar de modo preciso e pouco convencional. Após a xenofobia de seu penúltimo filme, o estupendo Gran Torino, aqui se fala de racismo. Contudo, ele não foca somente numa visão maniqueísta de segregação dos negros pelos brancos. Ele mostra como, após o fim do apartheid, essa segregação tendeu-se a se inverter. Aí entram os esforços de Mandela para conseguir uma integração legítima, não apenas em aparências, não apenas uma distorção na lógica de dominação. Aí entra o rugby. Tudo isso o filme mostra muito bem.
Agora, o grande erro está no modo como o filme mostra tudo isso. Os fatos são mostrados com bastante precisão, mas o modo como eles são retratados é ingênuo, cai nos excessos, na idealização, em alguns pontos até no endeusamento e no reverenciamento.
Como foi dito, Invictus sai do modelo frio e calculado dos filmes políticos. Mas após certo ponto ele sai demais; ele transborda numa avalanche de sentimentalismo barato, de romantismo exacerbado, culminando num clímax quase explosivo, com direito a cenas em câmera lenta. O filme não peca por um oposto mas peca pelo outro, e o resultado é catastrófico: o contexto político e social retratado acaba se reduzindo a uma partida de rugby – ao invés de usá-la em prol de si, como ocorreria numa linguagem realista.
E ai de quem não gosta de esporte. O filme se torna de repente terrivelmente cansativo, enfadonho, interminável. De repente tudo o mais que não é o rugby se perde.
Além de tudo isso, convenhamos: o Mandela de Clint Eastwood é quase o Lula de Fábio Barreto, embora seria exagero afirmar que chegue no mesmo ponto. Ele é o que está sempre disposto a perdoar (“como ele ficou 30 anos numa cela e saiu disposto a perdoar os que lhe prenderam?”), sempre tem frases de efeito para dizer – com forte carga moral – ele que quer sempre o bem para todos, ele que é a encarnação de todas as virtudes. Não que o Mandela real não seja uma pessoa extremamente virtuosa e tenha grandes méritos em sua história de vida. Ao contrário, todos conhecemos seu papel crucial no processo de reintegração racial da África do Sul. Mas, se sem ingenuidade, sabemos que um ser humano é um ser humano.

Ainda há, no filme, uma única tentativa fraca de distanciar a imagem de Mandela da de uma entidade perfeita e idealizada. “Nunca pergunte sobre a família dele. Ele não é um santo, é um homem, tem problemas como nós”. Mas a verdade é: Mandela é mostrado não como um deus, mas um semideus. Não um Zeus, mas um Hércules (aí está a diferença com o Lula de Fábio Barreto, que é de um fato um deus).
Não que construir empatia sobre um personagem seja um erro. Mas fazê-lo de modo a criar um reverenciamento a uma pessoa real... a ignorar as pluralidades de um ser humano... é o cinema como discurso panfletário, não como arte.
O Clint Eastwood que conhecemos em obras como “Sobe meninos e lobos”, “A Conquista da Honra”, “Cartas de Iwo Jima” e os recentes “A Troca” e “Gran Torino” acabou cometendo um deslize. Nada, acredito, que represente uma degradação fatal e irreversível em sua carreira. Esperemos seus próximos filmes.


(É impressão minha, ou Clint Eastwood dá uma de Hitchcock e aparece na platéia da partida final de rugby?)

Na foto, Clint Eastwood dirigindo Morgan Freeman, como Nelson Mandela, e Matt Damon, como o capitão do time de rugby



prêmios:
(essa crítica foi postada antes da entrega da maioria dos prêmios. As devidas atualizações serão feitas após os respectivos festivais)

OSCAR
Indicações
Melhor Ator - Morgan Freeman
Melhor Ator Coadjuvante - Matt Damon

Invictus não ganhou nenhum prêmio no festival do Oscar 2010

GLOBO DE OURO
Indicações
Melhor Diretor - Clint Eastwood
Melhor Ator - Drama - Morgan Freeman
Melhor Ator Coadjuvante - Matt Damon

SCREEN ACTOR'S GUILD AWARDS
Indicações
Melhor Ator - Morgan Freeman
Melhor Ator Coadjuvante - Matt Damon

NATIONAL BOARD OF REVIEW
Ganhou
Melhor Diretor - Clint Eastwood
Melhor Ator - Morgan Freeman
Prêmio de Expressão da Liberdade

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