domingo, 21 de fevereiro de 2010

Butch Cassidy

(meus xingos pessoais à tradução brasileira, que excluiu o pobre do Sundance Kid do título)
• título original:Butch Cassidy and the Sundance Kid
• gênero:Faroeste
• duração:01 hs 52 min
• ano de lançamento:1969
• estúdio:20th Century Fox / Campanile
• distribuidora:20th Century Fox Film Corporation
• direção: George Roy Hill
• roteiro:William Goldman
• produção:John Foreman
• música:Burt Bacarach
• fotografia:Conrad L. Hall
• direção de arte:Philip M. Jefferis e Jack Martin Smith
• figurino:Edith Head
• edição:John C. Howard e Richard C. Meyer
elenco:
• Paul Newman (Butch Cassidy)
• Robert Redford (Sundance Kid)
• Katharine Ross (Etta Place)
• Strother Martin (Percy Garris)
• Henry Jones (Vendedor de bicicletas)
• Jeff Corey (Xerife Steve Bledsoe)
• George Furth (Woodcock)
• Cloris Leachman (Agnes)
• Ted Cassidy (Harvey Logan)
• Kenneth Mars (Marechal)
• Donelly Rhodes (Macon)

Nota: 7,0 (categoria/parâmetro: western)

Misture numa panela os franceses Jules e Jim com o característico faroeste norte-americano, e tempere com um pitada de ironia e duas de humor: eis a história da famosa dupla de ladrões Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford) na visão da indústria cinematográfica de Hollywood. Um filme divertido, que peca terrivelmente na reprodução e aprofundamento de dados históricos, mas acerta habilmente na inovação da estética do western difundida por figuras como John Ford e Sergio Leone.
“A maioria dos fatos narrados a seguir são verdadeiros”, o espectador é advertido no início do filme. Afinal, por mais distorcida que esteja a história dos dois ladrões, com a finalidade pura de produzir entretenimento, não há, realmente, muito fatos a não ser verdadeiros. O filme se limita a um punhado de cenas de perseguição e de assaltos a bancos, além de discussões engraçadas entre os protagonistas, que não conseguem realizar um assalto na Bolívia por não saberem falar espanhol, e cenas leves e descontraídas do convívio entre os dois e a mulher de Kid, Etta Place (Katharine Ross). Não são sequer mencionados dados que seriam muito interessantes, como por exemplo, como os dois se conheceram e se tornaram parceiros, como e porque se tornaram bandidos, alguma menção à infância ou à família de um dos dois, a relação deles com possíveis bandos rivais ou amigos, ou, ainda, um maior aprofundamento do contexto histórico (expansão dos Estados Unidos para o oeste em busca do Pacífico, sob a insígnia do Destino Manifesto, segundo o qual cabia aos norte-americanos ligar os dois oceanos) em que o filme está inserido. Nada disso é mencionado por se tratar, afinal, de um filme de poucas pretensões, para o qual essas informações didáticas não são relevantes. Ele não faz questão de ser levado a sério. Tudo o que almeja é criar protagonistas carismáticos que nos divirta e pelos quais torçamos: isso ele consegue, com bastante eficácia.

E, ao fazê-lo, acaba se tornando de melhor qualidade do que uma gama de westerns clássicos que destroem o contexto histórico da expansão ao oeste ao transformá-lo em um bang-bang de ação em que mocinhos e bandidos fazem coisas absurdas quase como se voassem para conseguirem matar um ao outro, filmes estes que consideram-se sérios e têm altas pretensões; querem difundir a imagem do cowboy durão e imbatível, símbolo dos Estados Unidos e de suas conquistas expansionistas, quando este na verdade nos lembra mais um super-homem de pistolas e de personalidade totalmente superficial e inverossímil. Não é o caso de “Butch Cassidy”, cujas pretensões se limitam a tirar sorrisos do rosto e dinheiro do bolso dos espectadores.
Não é um filme que estereotipe os protagonistas (embora eles tampouco sejam psicologicamente profundos): no lugar do durão imbatível há personagens carismáticos e até vulneráveis, que são muito bons no que fazem, mas não são sobre-humanos – e, quem diria, Kid não sabe nadar, e Butch nunca atirou num homem na vida, fatos que rendem uns bons momentos de humor. Também não é um filme que aglomere muitas cenas de ação absurdas, embora hora ou outra, inevitavelmente, um dos protagonistas acabe escapando magicamente do tiro de algum vesgo. Além disso, as cenas de perseguição não são reduzidas a sequências acompanhadas por um trilha incidental bem clichê nas quais os heróis têm a oportunidade de exibir suas habilidades. Não há sequer trilha sonora nessas cenas, o que torna a perseguição quase documental. São ricamente reproduzidos os mecanismos pelos quais agem caça e caçador, e sem exageros.
Essa inovadora ausência de trilha sonora em quase a totalidade do filme (ao contrário não apenas dos westerns em geral, mas de filmes norte-americanos que tenham cenas de perseguição e de tiroteios) permite ao espectador se inserir melhor na sequencia que está assistindo. A respiração ofegante da locomotiva que os protagonistas assaltam, o som dos tiros nos assustando tanto quanto aos personagens, os passos secos deles acompanhados pela câmera, além de tornar essas cenas mais realistas e documentais, realizam o efeito oposto do distanciamento causado por trilhas incidentais que supostamente acompanham o nível de adrenalina dos personagens, mas, na verdade, dão vontade de comer uma boa pipoca.

A trilha sonora aparece em três momentos pontuais, que merecem ser destacados.
Primeiramente e antes de mais nada, esta que tornou-se uma das cenas mais famosas e reproduzidas na história do cinema norte-americano: Paul Newman e Katharine Ross felizes em cima de uma bicicleta, ao som de Raidrops Keep Fallin’ On My Head, de Burt Bacharach e Hal David, cantada por B.J. Thomas. Um retrato da harmonia do quase triângulo formado pelos três protagonistas do filme, com direito a piruetas de Butch em cima da bicicleta e à perseguição pastelão dele e de Etta Place (que era a esposa de Kid) por uma vaca enfezada.
Esta cena, por aparecer quase no início da projeção, quase me induziu a não gostar do filme. Fiquei com bastante raiva ao notar nela uma reprodução (cópia) barata e mal feita do triângulo amoroso de “Jules e Jim – Uma Mulher para Dois”, um clássico da Nouvelle Vague francesa, dirigido por um dos maiores mestres do cinema de arte, François Truffaut, para o qual nutri um certo espírito maternal de proteção. Jules, Jim e Catherine também andam de bicicleta e se divertem no meio do mato (o filme é de 1962), mas por algum motivo não ficaram tão famosos quanto Butch e Etta Place, estes que, afinal, não têm a audácia (isso sequer passa pela cabeça dos realizadores do filme) de quebrar convenções para o público como aqueles quebram. “Será que se tivéssemos nos conhecido antes estaríamos juntos?” pergunta Etta Place, ao que Butch responde “Já estamos juntos. Estamos montados numa mesma bicicleta, em algumas culturas isso significa casamento”. Um humor que camufla a incapacidade de Butch, Sudance e Etta de irem tão longe quanto Jules, Jim e Catherine, que reescrevem totalmente e sem tabus todas as noções de amor antes já institucionalizadas.
Felizmente, não é só de uma cena que se faz um filme, e a essa se sucederam outras (algumas delas já mencionadas) que conquistaram minha simpatia.
A segunda cena em que aparece trilha sonora é a sequência de fotos simbolizando a viagem do trio para a Bolívia: o modo de narrativa para a viagem é bastante original e a música serve apenas como pano de fundo para que não se torne monótono. A terceira passagem é a que relata vários assaltos realizados por eles na Bolívia, que passam rapidamente e são acompanhados por uma música descontraída e por vezes até cômica, proporcionando por vezes certa estranheza, por outras humor, mas acima de tudo poupando-nos de uma das músicas de aventura tradicionais nesse tipo de passagem.

Alguns comentários sobre o início e o final do filme. No início temos uma eficiente introdução aos protagonistas, na qual se destacam alguns aspectos técnicos, como uma bonita e coerente fotografia em sépia, e bom uso da câmera através de closers precisos. No final do filme temos a morte dos protagonistas. Ao invés de jorros trash de sangue, ou músicas enfastiadamente melancólicas e depressivas enquanto os heróis balbuciam suas últimas palavras (geralmente lições de moral ou “de vida”) até que vários minutos depois seus corações dê a última das últimas das batidas e eles se vão para um mundo distante e melhor, temos mais uma inovação: Butch e Sundance conversando calmamente sobre o futuro como se não houvesse possibilidade alguma de morrerem (“Você não viu Lefrois lá fora, viu? “Não” “Que alívio, por um momento achei que estivéssemos em apuros”) e, em seguida, correndo para o meio dos inúmeros policiais armados, no que a imagem se estabiliza em uma foto, eternizando a figura corajosa e carismática dos dois bandidos, enquanto continuam apenas os sons dos tiros.
Enfim, um filme divertido, com cenas engraçadas e memoráveis, com poucas pretensões e que consegue dar o entretenimento que quer, além de se destacar dentro da estética tradicional dos Velhos Oestes de machões, mas que, infelizmente, não nutre respeito à História e aos representantes do cinema de arte, nesse costume incurável de Hollywood de passar por cima de tudo para conseguir o que quer.

Na foto, os verdadeiros Butch Cassidy e Sundance Kid:



Prêmios

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Fotografia Oscar de Melhor Roteiro Original
Oscar de Melhor Canção Original (Raindrops Keep Fallin' on My Head)
Oscar de Melhor Trilha Sonora

Academia Britânica de Cinema e Televisão, Inglaterra
Prêmio de Melhor Filme
Prêmio de Melhor Direção (George Roy Hill)
Prêmio Anthony Asquith de Melhor Música (Burt Bacharach)
Prêmio de Melhor Roteiro Original
Prêmio de Melhor Ator (Robert Redford)
Prêmio de Melhor Atriz (Katharine Ross)
Prêmio de Melhor Fotografia
Prêmio de Melhor Edição
Prêmio de Melhor Trilha Sonora

Prêmios Globo de Ouro, EUA P
rêmio de Melhor Trilha Sonora Original

Indicações

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Filme
Oscar de Melhor Direção (George Roy Hill)
Oscar de Melhores Efeitos Sonoros

Academia Britânica de Cinema e Televisão, Inglaterra
Prêmio de Melhor Ator (Paul Newman)

Prêmios Globo de Ouro, EUA
Prêmio de Melhor Filme - Drama
Prêmio de Melhor Roteiro
Prêmio de Melhor Canção Original (Raindrops Keep Falling on My Head)

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