quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Os Imperdoáveis


• título original:Unforgiven
• gênero:Faroeste
• duração:02 hs 11 min
• ano de lançamento:1992
• site oficial:
• estúdio:Warner Bros.
• distribuidora:Warner Bros.
• direção: Clint Eastwood
• roteiro:Clint Eastwood
• produção:Clint Eastwood
• música:Lennie Niehaus
• fotografia:Jack N. Green
• direção de arte:Adrian Gorton e Rick Roberts
• figurino:Janice Blackie-Goodine
• edição:Joel Cox
elenco:
• Clint Eastwood (Bill Munny)
• Gene Hackman (Little Bill Daggett)
• Morgan Freeman (Ned Logan)
• Richard Harris (Bob, o ingl�s)
• Jaimz Woolvett (Schofield Kid)
• Saul Rubinek (W.W. Beauchamp)
• Frances Fisher (Strawberry Alice)
• Anna Levine (Delilah Fitzgerald)
• David Mucci (Quick Mike)
• Rob Campbell (Davey Bunting)
• Anthony James (Skinny Dubois)
• Beverley Elliott (Silky)
• Shane Meier (Will Munny)
• Aline Levasseur (Penny Munny)
• Ron White (Clyde Ledbetter)

Nota: 9,0 (parâmetro/categoria: western)

Clint Eastwood tornou-se humano. E desde então só humanizou-se cada vez mais.
Um dos maiores diretores norte-americanos da atualidade, Clint Eastwood não tornou-se o que é do nada. A ponte entre os westerns hollywoodianos que protagonizava, fazendo o típico cowboy machão e impenetrável, e os filmes profundamente sensíveis e contundentes que dirigiria a partir da década de 90 foi construída com muita delicadeza através dessa obra-prima merecedora indiscutível do Oscar de Melhor Filme. Os Imperdoáveis foi como que uma profecia. Um ser humano nasceu.
O personagem de Eastwood nesse filme é metaforicamente o próprio Eastwood. Trata-se de um cowboy amargurado com o passado de machão assassino inveterado, frio e bêbado – como se o próprio Clint Eastwood, como cineasta e artista, buscasse sua redenção. A visão melancólica e pessimista do filme não dá margem para muitas esperanças; uma espécie de determinismo faz com que Bill Munny não consiga escapar de seu passado, seja porque precisa de dinheiro para alimentar seus filhos, seja porque a injusta e severa punição e humilhação de seu amigo lhe despertem os rancores antigos. Seu retorno, no final, ao universo dos cowboys machões não é triunfal, mas deprimente. O sistema em que foi inserido não lhe permite ser humano. Mas apesar disso ele o é; e essa humanidade é construída minuciosamente, com muita delicadeza, desnudando aos nossos olhos um personagem cheio de fraquezas, que mata não por frieza, mas ao contrário, por possuir sentimentos tão fortes que não lhe é possível administrá-los, já que socialmente foi condicionado a ser frio.
A personagem ausente de sua falecida esposa é muito forte; ela não é a apenas a única que enxergou a humanidade sob o véu do assassino frio, mas também a que ensinou Bill a enxergá-la; ensinou-lhe a olhar sob o próprio véu. E não há nisso resquício de moralismo, como pode parecer numa leitura superficial, mas sim há quebra de preceitos, de idealizações sobre heroísmo, da concepção da violência como algo estimulante (disse Michael Moore que se alguns de seus amigos que assistiam John Ford quando jovens não o tivessem feito provavelmente estariam vivos; não teriam ido lutar em guerras pelo seu país).
Não há mocinho e bandido no filme: são todos humanos. O amargurado Bill, o aspirante a cowboy machão Schofield Kid – que só conhece o universo onde pretende entrar através de histórias e nunca viu a violência de perto –, o “escudeiro” Ned Logan (Morgan Freeman em uma de suas melhores atuações; talvez por tratar-se de um de seus melhores papéis), que é capaz de acertar um homem com precisão a milhas de distâncias mas de repente é incapaz de puxar o gatilho. As prostitutas não são objetos decorativos, têm personalidade, angústias, medos e aspirações. Os bandidos que passam o filme inteiro caçados para ser mortos não são pessoas nascidas para fazer o mal, mas pessoas que, num ataque de fúria causada pelo orgulho-próprio ofendido, tornaram-se violentas. São todos humanos com fraquezas e dualidades; deixaram de ser tipos e nós não estamos aí para julgar ninguém.
Talvez em consideração e respeito aos que lhe introduziram no cinema, Clint Eastwood resgatou esse gênero fora de moda há tantos anos para lhe assegurar uma cadeira no patamar dos filmes artísticos. Corresponderia, na literatura, em termos estéticos, sociais e psicológicos, à passagem do romantismo para o realismo dos westerns. Com essa obra de transição – em todos os sentidos – conseguiu uma obra-prima. E, para nossa sorte, o melancólico determinismo de seu personagem não se refletiu na vida real: o cineasta mostra-se em suas produções totalmente livre de seu passado. Se algum resquício amargurado então porventura sobreviveu, esvaiu-se de vez no final do mais recente Gran Torino – outra obra-prima.



Prêmios:

Oscar:

Ganhou:
Melhor filme
Melhor diretor
Melhor ator coadjuvante (Gene Hackman)
Melhor montagem

Indicações:
Melhor ator (ClintEastwood)
Melhor direção de arte
Melhor som
Melhor fotografia
Melhor roteiro original

Os Imperdoáveis recebeu ainda indicações para os prêmios de Melhor Direção e Melhor Filme da British Academy of Film and Television Arts, bem como o prêmio ShoWest de Diretor do Ano da Associação Nacional de Proprietários de Teatros (que também concedeu a Eastwood o prêmio de Astro da Década em 1982).

Um comentário:

  1. Esse é o melhor filme que eu já assisti em minha vida. Uma verdadeira obra prima. Foi feliz o autor do texto acima, ao perceber as nunces do filme. Um clássico.

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